Opinião
MS é um dos estados com mais mortes causadas pelo alcoolismo no trânsito
Levantamento apontou o aumento no número de acidentes fatais em Mato Grosso do Sul em um período de três anos
Correio do Estado / Judson Marinho
Uma pesquisa colocou o estado de Mato Grosso do Sul entre as unidades da Federação com o maior número de óbitos causados pelo alcoolismo durante a direção.
Conforme dados do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), com base em informações do Departamento de Informação e Informática do Sistema Único de Saúde (DataSUS), do Ministério da Saúde, houve em Mato Grosso do Sul, em 2023, uma taxa de 8,5 mortes em acidentes de trânsito relacionados ao uso de álcool para cada 100 mil habitantes.
A taxa levantada pelo Cisa coloca MS em quinto lugar entre os estados que mais registraram essa relação de acidentes fatais no trânsito atribuíveis à embriaguez. O Estado só fica atrás na pesquisa de Tocantins (12,8), de Mato Grosso (11,5), do Piauí (10,8) e de Rondônia (10,5).
Das 26 unidades da Federação mais o Distrito Federal, apenas nove estão abaixo da taxa nacional de 5,7. São elas: Minas Gerais (5,5), Rio Grande do Sul (5,4), Rio Grande do Norte (4,5), Amapá (4,2), Rio de Janeiro (4,2), São Paulo (3,9), Amazonas (3,9), DF (3,9) e Acre (3,8).
Dados de 2021 da pesquisa realizada pelo Cisa também informam que MS é um dos estados com maior porcentual de internações por acidentes de trânsito relacionadas ao uso de álcool por motoristas ou ageiros envolvidos em sinistros.
O Estado é o terceiro nesse índice, com 62,5 internações para cada 100 mil habitantes, atrás apenas do Piauí (85,2) e do Espírito Santo (72,7).
No mesmo período levantado, os dados de MS referentes a óbitos com embriaguez no volante mostram que, em um período de três anos, os registros de acidentes envolvendo álcool aumentaram.
Em 2021, foi registrada uma taxa de 7,8 mortes para cada 100 mil habitantes. Em comparação com a última pesquisa publicada pelo Cisa, ocorreu um aumento de 9% no número de óbitos.
CENÁRIO NACIONAL
Nacionalmente, o que chamou atenção na pesquisa foi o aumento do número de mortes no trânsito atribuíveis ao uso de álcool – de 11.961, em 2022, para 12.310, em 2023, uma alta em torno de 3%.
Homens são a grande maioria das vítimas (87%). Com relação à faixa etária, pessoas de 35 a 54 anos e de 18 a 34 anos representam, respectivamente, 35% e 34,3% desses óbitos.
A análise do Cisa apontou que a taxa de mortes por acidentes de trânsito relacionados ao uso de álcool por 100 mil habitantes caiu 23,6% no Brasil, ante 2010 e 2023.
O levantamento também indicou que a taxa se mantém estável no Brasil desde 2018, alternando entre aumento e queda na ordem decimal.
Em 2023, o País registrou uma taxa de 5,79, mas 20 estados estão acima do índice nacional.
De acordo com o psiquiatra e presidente do Cisa, Arthur Guerra, o Brasil é um dos poucos no mundo a estabelecer tolerância zero para a direção de veículos e a Lei Seca vem diminuindo a letalidade no trânsito e salvando vidas.
“No entanto, é um país de tamanho continental e há cenários bem distintos, por isso a importância de monitorar de perto os dados regionais. Ao olhar para as suas realidades, os gestores públicos podem propor soluções para avançar na prevenção das ocorrências de trânsito de seus estados e de cidades mais sensíveis”, declarou.
Conforme o Cisa, o álcool interfere na capacidade de direção e as alterações cognitivas e motoras ocorrem mesmo que não sejam percebidas pelo condutor.
Diante disso, quando se trata de beber e dirigir, qualquer dose de álcool é perigosa, pois afeta o reflexo, a percepção de risco e a capacidade de reação, aumentando as chances de envolvimento em acidentes de trânsito e a sua gravidade.
SINISTROS
O aumento de acidentes de trânsito na Capital tem colaborado com a superlotação do maior hospital de MS, a Santa Casa de Campo Grande. Reportagem do Correio do Estado de maio mostrou que a cada 20 minutos uma pessoa é internada vítima de acidente de trânsito na unidade hospitalar.
Referência em atendimento de traumatologia, a Santa Casa já atendeu, de janeiro até abril, 8.803 vítimas de acidentes de trânsito. Essa sobrecarga nos atendimentos de urgência e emergência, aliada à falta de recursos, levou a suspensão das cirurgias eletivas no hospital.
De acordo com Rodrigo Quadros, médico emergencista da instituição, cada atendimento impacta o sistema de saúde.
“Acidentes graves podem resultar em morte, internações prolongadas, cirurgias complexas e até sequelas irreversíveis. Por isso, reforçamos a importância da conscientização de todos os envolvidos no trânsito, sejam motoristas, motociclistas e ciclistas, sejam pedestres. A prevenção é a melhor forma de evitar tragédias”, reforçou o especialista.
Conforme informações do hospital, em 2024, foram contabilizadas 33.335 vítimas de acidentes atendidas no hospital. Entre as principais causas de atendimentos estavam as colisões entre carros e motos (1.927 registros) e os acidentes entre motocicletas (397 casos).
SAIBA
A análise dos acidentes de trânsito atribuíveis ao álcool feita pelo Cisa tem como base os dados do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) do DataSUS.